sábado, 28 de abril de 2007

A Conferência de Aparecida

Padre Almir Magalhães
28/04/2007


Em maio próximo, ocorrerá a V Conferência Geral do Episcopado da América
Latina e do Caribe na cidade de Aparecida (SP), que contará em sua
abertura com a presença do papa Bento XVI, que faz assim sua primeira
visita ao Brasil. O tema da Conferência em tela é "Discípulos e
missionários de Jesus Cristo para que nele nossos povos tenham vida".

O objetivo desta reflexão é expor o que se espera desta
Conferência; elencarei duas expectativas porque julgo como centrais
para o nosso contexto.

Vamos tomar como ponto de referência para esta contribuição o
documento de participação (DP), publicado conjuntamente pelo Celam,
CNBB, Paulus e Paulinas, do ano de 2005, que serviu de fonte para as
contribuições das várias Conferências Episcopais Nacionais, emergindo
daí o Instrumento de Trabalho que será utilizado durante a Conferência.

Como primeira expectativa, faço alusão ao nº 41, do DP, que afirma:
"Na Exortação Apostólica Ecclesia in América, o papa João Paulo II nos
mostrou que 'o encontro com Jesus Cristo vivo' é o ponto de partida de
toda ação pastoral. No hoje de nossa América, ele ilumina nossa vida e
todo o trabalho evangelizador. É assim que a preparação para a V
Conferência Geral é uma ocasião propícia para fazer um profundo
discernimento a respeito da qualidade de nossa vida, das celebrações
litúrgicas, do trabalho catequético, da ação social e solidária,
perguntando-nos se elas levam ao encontro vivo com Jesus, se o
celebram, se o prolongam e se o anunciam aos que estão longe dele ou
não o conhecem" (os grifos são meus).

A segunda expectativa decorre de uma orientação contida no
Documento Conciliar sobre a Igreja (Lumen Gentium, nº 8b) que diz:
"Assim como Cristo consumou a obra da redenção na pobreza e na
perseguição, assim a Igreja é chamada a seguir o mesmo caminho a fim de
comunicar aos homens os frutos da salvação... Cristo por nossa causa
'fez-se pobre embora fosse rico' (2 Cor 8,9): da mesma maneira a
Igreja, embora necessite dos bens humanos para executar sua missão, não
foi instituída para buscar a glória terrestre, mas para proclamar,
também pelo seu próprio exemplo, a humildade e a abnegação".

Tenho a impressão de que a qualidade de vida do povo da América
Latina e do Caribe não expressa a dignidade que mereça o título de ser
"imagem e semelhança de Deus". Todos já conhecem qual a realidade deste
povo alegre e sofrido e quanto bem se fará a este povo se a Igreja
acentuar a sua presença pública na defesa da vida.

Decorrente desta opção, do posicionamento da Igreja em todos os
níveis: Institucional, da Igreja que se constrói na base, das
Paróquias, das Áreas Pastorais emergirá esta identidade que Lumen
Gentium faz referência, ou seja, uma Igreja que é perseguida porque
profética, uma Igreja pobre porque radicaliza a sua fidelidade ao
Evangelho e que também é um patrimônio da Igreja primitiva.

Neste sentido é bom lembrar aqui a mais radical tradição da Igreja
(como modelo eclesiológico se deu a partir da Igreja primitiva) que, na
fidelidade ao Evangelho, foi-se construindo na perseguição. Isto nos
confirma o livro dos Atos dos Apóstolos. Entre algumas de suas
citações, que poderiam ser muitas e que aparecem, sobretudo neste
período imediato ao domingo da ressurreição, cito At. 4,
16-17;23-24;29: "O que vamos fazer com esses homens? Eles realizaram um
milagre claríssimo e o fato tornou-se de tal modo conhecido por todos
os habitantes de Jerusalém, que não podemos negá-lo. (...) Contudo, a
fim de que a coisa não se espalhe ainda mais entre o povo, vamos
ameaçá-los para que não falem mais a ninguém a respeito do nome de
Jesus". "Logo que foram postos em liberdade, Pedro e João voltaram para
junto dos irmãos e contaram tudo o que os sumos sacerdotes e os anciãos
haviam dito. (...) Ao ouvirem o relato, todos eles elevaram a voz a
Deus dizendo: Agora, Senhor, olha as ameaças que fazem e concede que os
teus servos anunciem corajosamente a tua palavra".

A dedução lógica, textual e histórica comprova que os cristãos da
primeira hora incomodaram e, por isso, sofreram ameaças e perseguições.
Será este um critério que deve ser concretizado em todas as épocas? É
evidente que tudo isto se faz dentro de um espírito evangélico, com
base no diálogo, com determinação, com a liberdade de quem se sente à
vontade para defender aqueles e aquelas que se calam ou são
silenciados.

Feliz Páscoa!

PADRE ALMIR MAGALHÃES é sacerdote da arquidiocese de
Fortaleza, reitor do Seminário Arquidiocesano São José - Filosofia, e
mestre em Missiologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.

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