Desafio é investir em qualificação e infra-estrutura
Entrevista do Ministro do Turismo ao Mercado & Eventos
Desde a época em que ocupava o cargo de secretário-executivo do Ministério do Turismo, Luiz Barretto vem acompanhando com maior proximidade os desafios do setor. Agora, há pouco mais de um mês à frente da pasta, tem diante de si a tarefa não apenas de ajudar a cumprir as metas estabelecidas pelo Plano Nacional de Turismo, como também contribuir para que o país esteja preparado para a Copa do Mundo, em 2014, e até para a possibilidade de sediar as Olimpíadas de 2016.
Diante destes desafios, Barretto não tem dúvidas em afirmar que o setor precisa avançar e dar um salto de qualidade e que o apoio parlamentar tem possibilitado obter mais recursos para o orçamento. "Lembro que os recursos do Turismo que eram pouco mais de R$ 300 milhões em 2003, hoje já representam quase R$ 3 bilhões". Veja a entrevista:
MERCADO & EVENTOS - Qual é o grande desafio do Turismo brasileiro?
Luiz Barretto - Investir na melhoria da nossa infra-estrutura turística e na qualificação profissional. São os dois aspectos fundamentais para o desenvolvimento do nosso setor e para nos prepararmos de forma adequada para eventos como a Copa do Mundo e quem sabe as Olimpíadas.
M&E - A Copa do Mundo será determinante no processo de promoção do país no exterior?
Barretto - Um evento deste porte talvez venha a ser uma das maiores oportunidades dos últimos anos para o turismo brasileiro, principalmente pelo aspecto da promoção e divulgação da nossa imagem no exterior. Mas temos que nos preparar adequadamente para isso. Lembro que o Brasil inteiro vai ganhar com este evento, mesmo aqueles destinos que não forem contemplados como cidades-sede.
M&E - De que forma governo e iniciativa privada podem levar o brasileiro a viajar mais? Além dos programas existentes com este objetivo, o MTur estuda trabalhar novos segmentos?
Barretto - Atuando em parceria para fomentar o turismo interno e levando os brasileiros a incluírem o item "viagem" em seu orçamento como um bem a ser adquirido. É o que o Ministério do Turismo está fazendo junto com operadoras de turismo, agências de viagens e meios de hospedagem. Estamos desenvolvendo o programa Viaja Mais que busca exatamente estimular os brasileiros a conhecerem o Brasil e, assim, reduzir os impactos da sazonalidade sobre o setor. A modalidade Viaja Mais - Melhor Idade, iniciada no ano passado, e a primeira a ser lançada, teve grande adesão de empresas e de turistas e, por isso, cresceu neste ano. Em 2007, a meta era sete mil e vendemos nove mil pacotes; em 2008, a meta era 50 mil e as vendas praticamente triplicaram essa estimativa somente no primeiro semestre. Lançamos também o Viaja Mais - Melhor Idade Hospedagem, que dá desconto de 50% na diária, com a adesão de mais de 1.500 meios de hospedagem. Mais recentemente, o MTur lançou o Viaja Mais – Jovem, que pretendemos ampliar para outros estados além do Acre, onde estamos desenvolvendo a primeira experiência. Essa modalidade estimula o Turismo Pedagógico por meio de viagens de estudantes dentro do próprio estado. Não vamos parar por aí. Ao contrário, vamos criar outras modalidades do Viaja Mais e a de trabalhadores já está sendo estruturada.
M&E - Entre as prioridades do ministério, o turismo doméstico continua a merecer uma especial atenção. O Programa de Regionalização é umas das vertentes para o desenvolvimento do turismo no país?
Barretto - Não é possível ter políticas públicas direcionadas para o turismo sem um foco específico. Nós temos mais de cinco mil municípios no país e boa parte deles com vocação turística. A decisão do Ministério do Turismo, ao selecionar os 65 destinos indutores, foi justamente com o objetivo de trabalhar melhor estes mercados para que eles tenham uma política de indução. Num mercado cada vez mais competitivo, precisamos estar mais qualificados e ter programas de capacitação para receber bem o turista.
M&E - Um dos desafios da consolidação dos 65 destinos indutores é a questão da acessibilidade.
Quais os principais desafios em relação a infra-estrutura turística e de serviços?
Barretto - Qualquer desafio para o setor, hoje, tem uma nova dimensão, que é a da preparação do país para a Copa do Mundo de Futebol em 2014, seja no acesso aos destinos, seja em infra-estrutura ou qualificação dos serviços. Nós sabemos que o que for feito, em termos de melhorias, terá repercussão daqui a seis anos e permanecerá incorporado definitivamente à infra-estrutura turística do país. O MTur trabalha com planejamento e é necessário observar que os setores públicos e privados contam com um norte para direcionar ações e recursos. Estamos falando do Estudo de Competitividade dos 65 Destinos Indutores – Relatório Brasil, isso nunca existiu no país. Mas agora existe e vai ser monitorado permanentemente. O estudo, feito pela FGV, mostra onde estão os problemas e o que precisa ser feito para resolvê-los. Mostra que o turismo não se desenvolve isoladamente. Neste sentido, entregamos ao Presidente Lula o Plano de Mobilidade Urbana para a Copa, com projetos dos ministérios do Esporte, Transporte, Saúde e da Casa Civil. Ou seja, é um planejamento integrado. Nós sugerimos investimentos, no total de R$ 38,5 bilhões, em cidades que pleiteiam sediar os jogos (São Paulo, Rio de Janeiro, Niterói, Belo Horizonte, Porto Alegre, Fortaleza, Recife, Olinda, Natal, Maceió e Brasília) e que estão incluídas entre os 65 destinos indutores. Da parte do turismo, o projeto considera as discussões do PNT 2007-2010, que prioriza a logística de transporte em um de seus macroprogramas; o Estudo de Competitividade dos 65 Destinos Indutores e a observação de investimentos realizados na Alemanha para a Copa de 2006 e na China, que este ano sedia os jogos olímpicos, além das ações que estão em andamento na África do Sul para a Copa de 2010. Outro trabalho importante, com resultados para os 65 destinos, diz respeito ao financiamento do Prodetur Nacional para ações de infra-estrutura, qualificação e capacitação de gestores. O MTur trabalha nisso em sintonia direta com os estados e municípios. Não podemos esquecer que os 65 destinos serão vitrines no país e a Copa do Mundo colocará o Brasil na vitrine do mundo. Esse é o grande desafio para todos.
M&E - Como resolver a equação de fazer com que o Brasil seja um destino capaz de receber nove milhões de turistas/ano?
Barretto - Atrativo turístico qualificado mais promoção e marketing planejados é igual a mais turistas. Essa é a equação trabalhada pelo Ministério do Turismo. Identificamos os destinos indutores, realizamos ações e investimentos em infra-estrutura e qualificação, planejamos e executamos campanhas promocionais no mercado internacional adequadas aos perfis de cada país. Não podemos esquecer que há variáveis que podem interferir no resultado. Estamos no caminho certo do desenvolvimento. Temos o propósito de atrair 7,9 milhões de estrangeiros até 2010 e penso que chegaremos lá.
M&E - Em sua gestão você deve manter a equipe atual ou trará novos nomes? E em relação ao programa de gestão, o que terá maior ênfase e prioridade?
Barretto - O Ministério do Turismo tem um histórico de ações de sucesso, graças a uma equipe técnica de excelência, e queremos seguir essa trilha. Na minha gestão é prioritário avançar nos projetos de inclusão, diretriz de governo do presidente Lula, como o Viaja Mais Jovem. O Prodetur Nacional também está na minha agenda de prioridades. O MTur tem dado apoio técnico aos estados que querem apresentar a carta-consulta para terem acesso ao crédito do BID, que é de US$ 1 bilhão para todo o programa. Esses recursos são muito importantes para os projetos de infra-estrutura e qualificação, pois são investimentos que terão reflexos diretos sobre o padrão de competitividade dos 65 destinos indutores e para a Copa do Mundo.
M&E - O que mais atrapalha o desenvolvimento da indústria do turismo e quais as soluções para que possamos dar um salto qualitativo?
Barretto - É fundamental a regulação do setor. E isso será conquistado com a Lei Geral do Turismo. A Câmara dos Deputados e o Senado aprovaram o texto que foi resultado de um amplo acordo envolvendo governo federal, os vários segmentos empresariais e parlamentares da Comissão de Turismo e Desporto. Os líderes avalizaram o acordo, aprovando o projeto de lei. O Congresso reconheceu a importância econômica e social do turismo, que em 2007 foi o quarto produto na pauta de exportações do país. Com a Lei do Turismo, o setor poderá avançar bem mais porque serão criadas as condições favoráveis ao investimento e à expansão da iniciativa privada, além disso, o Ministério do Turismo terá os instrumentos para implementar políticas estabelecendo um modelo que atenda aos interesses do setor. Creio que é apenas isso que faltava ao setor: o marco regulatório.
M&E - A carência de vôos internacionais e conexões nacionais preocupa?
Barretto - Muito se fala sobre a necessidade de novos vôos internacionais, mas estamos trabalhando para equacionar este problema. Em setembro, a Tam inicia sete vôos diários para Miami a partir do Rio de Janeiro e em outubro, serão mais sete para Nova York.
M&E - E a questão da exigência de visto para os turistas norte-americanos, uma das maiores queixas dos secretários de Turismo na última reunião do Fornatur?
Barretto - Estamos tentando buscar soluções alternativas que passam pela flexibilização do visto. Estou otimista que no médio prazo possamos resolver esta questão junto ao Itamaraty. Superar este impasse nos ajudará muito, principalmente no sentido de trazermos mais turistas norte-americanos para o Brasil. Atualmente captamos apenas 1% deste mercado o que corresponde a cerca de 700 mil turistas/ano que visitam o país.
M&E - O fato de os brasileiros estarem viajando mais ao exterior preocupa?
Barretto - Não. Isso mostra que a economia do país vai bem. Além disso, os turistas estrangeiros estão gastando cada vez mais em suas vindas ao Brasil. Apenas neste ano já acumulamos uma receita de quase US$ 2,5 bilhões em divisas, o que corresponde ao volume total em divisas do ano de 2003.
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