sábado, 19 de julho de 2008

Câmbio e turismo: quem ganha e quem perde com o Real valorizado


Câmbio e turismo: quem ganha e quem perde com o Real valorizado

No Brasil, a atividade turística tem expandido e mostrado sua importância em termos de desenvolvimento sócio-econômico regional, nos últimos anos. De acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT), estima-se que no ano de 2010 o número de desembarque mundiais atinja a marca de 1 bilhão. Em 2020 o número de turistas internacionais chegaria a 1,6 bilhão, ou seja, um incremento de 60% nas viagens internacionais em um período de 10 anos. Entre os destinos procurados está incluído o Brasil.

Diferentemente do período entre os anos de 1994 e 1998, quando o câmbio foi fixado pelo governo na paridade R$1,00/US$1,00, o regime adotado hoje pelo Brasil é baseado no câmbio flutuante, onde a taxa de câmbio é determinada pelo mercado. Após adoção do regime de câmbio flutuante, tem-se observado, nos últimos anos, a valorização da moeda nacional frente o dólar. Isso ocorreu devido às políticas baseadas em altas taxas de juros, atraindo um grande volume de moeda estrangeira no mercado de capitais brasileiro, como também o aumento dos investimentos diretos por estrangeiros na economia nacional. Conseqüentemente, esta grande oferta de dólares faz com que a moeda nacional se valorize perante a moeda estrangeira, tornando as viagens internacionais mais baratas ao bolso dos brasileiros.

Evidentemente que a questão cambial influencia e impacta as decisões dos brasileiros quanto a viajar para o exterior ou pelo Brasil. Da mesma forma, para o turista estrangeiro, esta valorização cambial torna mais caro o turismo no Brasil, configurando uma perda de competitividade do País no turismo internacional. Ainda sobre a conseqüência da valorização cambial no turismo, houve um aumento de 60,29% nas despesas internacionais feitas por turistas brasileiros no exterior, no período entre janeiro e maio deste ano, contra o mesmo período do ano passado, totalizando US$ 4.488 milhões, enquanto as receitas cresceram apenas 18,10% no mesmo período, atingindo US$ 2.473 milhões. Estes dados são oficiais, mas exigem uma alerta: a especulação financeira no mercado de câmbio paralelo é atuante nas principais cidades turísticas do Brasil por produzir um grande fluxo de moeda estrangeira e as operações realizadas neste mercado não são contabilizadas no Balanço de Pagamentos. Entretanto, a análise dos dados sugere que o turista brasileiro preferiu viajar para o exterior ao invés de praticar o turismo interno, em razão do câmbio valorizado. Outro dado interessante: nos primeiros cinco meses do ano, o número de desembarques de passageiros em vôos nacionais aumentou apenas 0,42%, quando comparado ao mesmo período do ano anterior, o que corrobora a influência do câmbio nas decisões dos brasileiros acerca de viagens.

Como os gastos dos brasileiros no exterior crescem mais rapidamente do que os dos turistas estrangeiros no Brasil, o turismo internacional acaba se tornando uma fonte cada vez mais forte de saídas de dólares, embora seu impacto nas contas externas como um todo seja reduzido.

Dessa forma, grande parte dos empresários ligados ao setor turístico perde a queda de braço travada com o câmbio valorizado, que estimula as viagens internacionais de brasileiros. Pelo princípio básico, quem leva os turistas brasileiros ao exterior ganha com o câmbio valorizado, enquanto o turismo receptivo amarga as conseqüências do dólar fraco. Logo, estabelecimentos como hotéis, bares e restaurantes têm muito a perder com isso. A situação é mais grave no caso específico dos hotéis, já que bares e restaurantes contam com os gastos da população local.

O estado da Bahia, por exemplo, um dos principais destinos turísticos de estrangeiros, tem sentido a perda de turistas internacionais. É o efeito reverso do câmbio valorizado, que torna as viagens de estrangeiros ao Brasil mais onerosas.

Entretanto, as agências e operadoras de turismo se beneficiam deste cenário, reflexo da maior demanda por pacotes turísticos internacionais. Mesmo quem deseja viajar pelo Brasil se rende aos preços mais favoráveis às viagens ao exterior, alterando seu destino inicial. Mas vale destacar que, no ano passado, o mercado doméstico foi afetado também pelo caso Varig e os vôos internacionais, pelo acidente da TAM.

O dólar barato também favorece os cruzeiros marítimos. No passado, fazer viagens em cruzeiros era um privilégio de poucos, mas, atualmente, está muito mais fácil e acessível viajar de navio, dado o crédito farto e o dólar desvalorizado. O mercado de cruzeiros marítimos cresceu bastante e consolidou-se entre os brasileiros. Existem muitas opções de rotas e pacotes turísticos e cruzeiros temáticos oferecidos por inúmeras agências de viagens que agradam a todos os tipos de pessoas e idades. O sucesso dos cruzeiros é tamanho que a demanda tem expandido.

Entre os destinos mais procurados pelos brasileiros no exterior estão os Estados Unidos, em que pese as dificuldades para a obtenção de vistos, Argentina e Chile. Já o Caribe é o local mais procurado pelos cruzeiros.

As entidades brasileiras ligadas ao turismo estão cientes do atual cenário e das limitações que ele impõe, mostrando certa preocupação com a situação. Segundo Janine Pires, presidente da Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), o programa “Viaja Mais Melhor Idade” é uma iniciativa que favorece a minimização do impacto do câmbio no turismo interno.

É inegável que o Brasil possui uma infinidade de destinos muito atraentes, não só ao turista estrangeiro, como também ao turista doméstico. A parcela da população que viaja ao exterior, apesar de ter crescido enormemente, ainda é pequena quando comparada à população total. A grande maioria ainda elege passar as férias no País. E é com este grupo de pessoas que o trade turístico deve procurar atender, através de um esforço conjunto, visando à melhoria constante dos seus serviços, abarcando setores chaves, como hotéis, restaurantes, prestadores de serviços em geral, taxistas e, especialmente, o setor público, através da melhoria da infra-estrutura, possibilitando uma melhor estadia ao turista.

Somente o patrimônio histórico e cultural brasileiro já avaliza um bom fluxo de turistas domésticos e estrangeiros. Mas é importante enfatizar que, com ou sem a influência do câmbio, o turismo possui potencial enorme de gerador de divisas, se for tratado como setor de extrema importância econômica, além da social.


Fonte : Ass. Economia FNHRBS
Data : 17-07-08
Marcia Tuna - Jornalista FNHRBS
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