domingo, 11 de maio de 2008

Visita de Bento XVI impulsiona projeto social

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Um ano após a passagem do papa, fazenda em SP amplia atendimentos

Simone Menocchi - O ESTADO DE SÃO PAULO

Um ano após a visita do papa Bento XVI ao Brasil, a Fazenda da Esperança, em Guaratinguetá, no interior de São Paulo, recebeu mais doações e conseguiu ampliar o atendimento. Foi lá que o papa esteve por duas horas falando a 2.500 jovens no dia 12 de maio. “Mudou quase tudo”, diz o frei franciscano Hans Stapel, que fundou há 25 anos o projeto de recuperação de jovens dependentes químicos.

A fazenda, localizada no bairro das Pedrinhas, virou ponto turístico em Guaratinguetá com visitas diárias de pessoas querendo ver por onde o papa passou. A obra ganhou mais sete unidades no País e no exterior e, em um ano, passou de 43 para 50 fazendas. Frei Hans conseguiu, com doações, pagar os R$ 6,5 milhões que a entidade gastou com as reformas e obras para a chegada do papa, e pelo menos 30 fazendas foram doadas por empresários e governos, no Brasil e em outros países, para que o projeto ganhasse novas unidades e pudesse atender mais jovens. “No primeiro mês, recebemos 2 mil ligações. Mães desesperadas querendo salvar seus filhos, jovens desesperados querendo vir pra cá.” Mas os resultados foram além.

O projeto do livro entregue ao papa durante a cerimônia pelo ex-dependente químico Ricardo Ribeirinha virou realidade e se transforma, a partir de agora, em uma campanha nacional contra as drogas. Ricardinho, como é conhecido, lançou a campanha “Viver de Cara Limpa”, com material didático para jovens, professores e pais. “A dependência química pode comprometer o futuro da humanidade. O que colheremos daqui a 20 anos?”, questiona o autor do livro, que esteve com o papa.

A campanha começou pelo Estado do Tocantins, onde 560 escolas estão distribuindo o material. Amanhã ela será lançada no Estado de São Paulo, começando com 48 mil estudantes da regional de Guaratinguetá, que vão começar a receber e debater o material.

Em junho, a presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Maria Auxiliadora Seabra Rezende, titular da pasta no Tocantins, vai apresentar o projeto para outros Estados. “Alagoas, Pernambuco e Manaus também já acenaram que querem instituir a campanha nas escolas”, conta Ribeirinha, que se tornou coordenador de políticas antidrogas do Estado do Tocantins.

“Valeu a pena acreditar na vida e não na morte”, diz hoje o jovem, que há 15 anos deixou para trás a vida de traficante e usuário de drogas. “Cheguei baleado, foragido, desacreditado pela família e por mim mesmo.”

Ele contou suas dores e sua recuperação ao papa, que naquele dia quebrou o protocolo, saiu em direção aos jovens, colocou o boné da fazenda e abraçou as crianças, filhos dos internos. A foto do abraço acabou virando cartaz e depois uma estátua, que será mostrada amanhã no lançamento da campanha.

“É para lembrar sempre esse momento histórico, quando, ao abraçar as crianças, abraçou todos nós. Ele realmente fez coisas aqui que nunca eu vi um papa fazer. Todos (foram) tocados. Foi algo inesquecível. Aqui o papa foi verdadeiramente papa.” A estátua, em resina, foi feita pelo escultor Genésio Gomes.

TURISMO

Antes da visita do papa, a fazenda do bairro das Pedrinhas era um lugar tranqüilo. “Era”, frisa frei Hans. “Agora, vem gente todo dia”, conta. Diante do crescente fluxo de turistas, duas casas para os internos foram construídas no alto das montanhas e a fazenda passou a ser um lugar de peregrinação. “Aqui em baixo, quase como uma nova vocação, a unidade se especializou para receber os visitantes.” Alguns jovens se especializaram como guias, uma loja e uma lanchonete foram abertas.

VISITA

Os fiéis visitam a Igreja de Santa Crescência, única abençoada pelo papa, assistem vídeos e perguntam aos jovens como foi a experiência de estar com o pontífice.

“Realmente mudou aqui e mudou no Brasil inteiro. O papa deu uma luz extraordinária para esses jovens. Quantas pessoas, depois da visita do papa, nos procuraram para sair das drogas”, comemora frei Hans.

O padeiro Cliffor de Carvalho Assunção, de 32 anos, foi um deles. “Soube que o papa viria para a fazenda um mês antes e isso me tocou. Pensei ‘se ele vai lá, é porque lá é um lugar especial’.”

Depois de um mês, Assunção saiu de São Sebastião, onde morava com a família, para tentar se livrar do vício das drogas na Fazenda da Esperança.

“Hoje descobri por que o papa passou por aqui. Vou completar um ano de tratamento e posso dizer que reaprendi a viver”, diz Assunção.

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