Cachaça quer ampliar exportação
Jornal do Comércio (RS) – Cad. Economia
Com menos de 1% de sua produção anual de 1,3 bilhão de litros voltada para o mercado externo, a indústria brasileira de cachaça trabalha para ganhar espaço no mercado internacional. A meta é fazer com que os embarques representem 10% do total fabricado no País. Para chegar lá, o setor tem um longo caminho a percorrer, passando pela busca de reconhecimento de denominações de origem do produto nos Estados Unidos e na União Européia, além de um trabalho de divulgação da bebida e das formas de preparar a caipirinha. Na liderança desse processo, a presidente do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac) e diretora da Engarrafamento Pitú, Maria das Vitórias Cavalcanti, afirma que o exemplo a ser seguido é o da tequila, que virou febre internacional nos anos 1990 depois de passar por um agressivo trabalho promocional desenvolvido pelo governo mexicano e iniciativa privada.
Jornal do Comércio - A indústria da cachaça exporta hoje menos de 1% do que produz. O que é preciso fazer para chegar à meta de 10%?
Maria das Vitórias Cavalcanti - Um por cento é pouco quando você pensa proporcionalmente. Mas, na verdade, são 11 milhões de litros. Não é tão pouco se pensarmos que o México exporta 60% da produção de Tequila, o que representa 120 milhões de litros. A minha empresa sozinha é responsável por 37% dessas exportações. É um número pequeno. Mas a produção nacional é muito grande: 1,3 bilhão de litros. O que precisamos é fazer um trabalho de divulgação. Quanto mais marcas, mais o produto será conhecido. O grande problema é que o produto não é conhecido e que não existe a categoria cachaça (no mercado internacional). No México foi feito um mutirão do governo com a iniciativa privada para ensinar sobre a tequila. Mas a ação teve um suporte financeiro que o setor de cachaça ainda não tem condições
de arcar.
JC - A tequila é o exemplo a seguir?
Maria - Para a cachaça o caminho que eles trilharam é o grande exemplo. Por que isso? Existem muitas coincidências. Era um produto de baixo valor agregado, produzido para as massas. Era um produto de grande volume e de baixo preço. O que aconteceu? As pessoas resolveram modificar isso. A grande diferença é que o volume deles, por maior que seja, 210 milhões de litros, não chega a um quinto do nosso.
JC - O que o setor está fazendo para promover o produto no mercado externo?
Maria - A gente está trabalhando com o TTB (Alcohol and Tobacco Tax and Trade Bureau, órgão do governo norte-americano responsável pela normatização da importação de derivados de fumo e de produtos alcoólicos), que atualmente classifica a cachaça como um tipo de rum. Eu fui a reuniões duas vezes. Na primeira, pedi a eles que não chamassem a gente de rum, que a gente era cachaça. Eles disseram: "No seu País, a cachaça é reconhecida como produto típico?". Não era. Aí voltamos para o Brasil e fizemos o dever de casa. Conseguimos que o presidente Fernando Henrique fizesse o decreto nesse sentido. Como eu poderia pedir para reconhecer se aqui não era reconhecido? Por isso criamos o Ibrac (Instituto Brasileiro da Cachaça).
JC - Nos EUA e na UE o Ibrac busca o reconhecimento da denominação de origem para que apenas aguardentes de cana brasileiras possam utilizar o nome cachaça. É possível obter tal certificação para todo o Brasil, mesmo com a diversidade cultural e geográfica do País?
Maria - É possível. A gente vai tentar provar a importância que a cachaça tem para a cultura e a história do Brasil. Os EUA são um mercado muito forte. A definição do TTB sobre isso vai sair antes da União Européia. Se a gente conseguir, nos EUA, ser um produto típico do Brasil, já teremos caminhado 50% para chegar à Europa.
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