O Viaja Mais Jovem foi lançado na manhã desta quarta-feira (7) no auditório do Ministério do Turismo, em Brasília. O programa é um projeto piloto que será realizado no Acre. Veja abaixo a apresentação feita pelo secretário de Turismo do Acre, Cássio Marques.
Os secretários Airton Pereira (secretário Nacional de Políticas de Turismo) e Cassiano Marques (secretário de Turismo do Acre), explicam objetivos e detalhes do Viaja Mais Jovem. Contam como foi estruturado o programa, seus alcances e metas em relação ao Turismo no País e no Acre, onde começa a ação em projeto piloto.
Airton Pereira, secretário nacional de Políticas de Turismo:
Como está formatado o Viaja Mais Jovem e por que começar o piloto a partir do Estado do Acre?
Começamos pelo Acre numa convergência de propósitos. O Ministério do Turismo queria desenvolver o Viaja Mais voltado ao público jovem e a Secretaria de Turismo do Acre tinha a intenção de atuar com a Secretaria Estadual de Educação para desenvolver uma ação que facilitasse a viagem de estudantes e melhorasse o nível de escolaridade. O Ministério enxergou um potencial grande na estruturação de um produto para todo o Brasil. A idéia é que, inicialmente, o produto seja oferecido para os estudantes da escola pública, e, à medida que seja validado, venha a se tornar um produto comercial para que os alunos de escolas privadas também possam participar, comprando pacotes e fazendo a ocupação hoteleira crescer. Nessa estratégia, temos claro que é importante manter o foco na educação, na história ou na educação ambiental, ponto forte no Acre, e que pode se desenvolver em propostas semelhantes em todo o País. Existe, neste momento, a garantia de compra do pacote a preços diferenciados e negociados para que os alunos da rede pública do Acre possam viajar gratuitamente para estudos. Por ser um pacote desenhado com o apoio da Secretaria de Educação do Acre, com fundamentação pedagógica, ele cumpre bem esse objetivo. Quando tivermos mais estados interessados e participando desse projeto, certamente, vamos contar com um intercâmbio de experiências. Alunos da rede pública do Acre vão poder visitar outro estado, e vice-versa. O projeto tem uma linha geral, os objetivos serão os mesmos, contando com apoio financeiro, mas ganhando a especificidade de cada estado. Esse piloto está sendo feito para o ensino fundamental, mais o objetivo é, nos próximos 45 dias, lançar um piloto para o ensino médio, em Brasília. Com essas experiências, queremos entender o que funciona e o que pode ser aperfeiçoado. Até o fim do ano, deveremos ter vários estados aderindo ao Viaja Mais Jovem.
Tem alguma estratégia específica para ampliar a ação?
Vamos apresentar o piloto do Acre na reunião do Fornatur (Fórum Nacional dos Secretários e Dirigentes Estaduais do Turismo), no fim do mês, em Curitiba, para despertar o interesse de mais estados e para que os secretários de Turismo já possam desenvolver a idéia de atuações conjuntas com secretarias estaduais de Educação. O importante é que os projetos tenham o cunho pedagógico que o Acre conseguiu desenvolver muito bem, definindo objetivos educacionais e turísticos. Lá, temos uma abordagem em regiões de menor IDEB, nas escolas com melhor desempenho. É uma estratégia interessante, que estimula o interesse dos alunos em aprender mais. O Viaja Mais estimula o brasileiro a conhecer o Brasil. No primeiro momento, o Ministério atuou com o público da terceira idade. Agora, o programa abraça jovens.
Já está acontecendo uma mudança de hábitos, se criando uma cultura da viagem?
É o que a gente quer: incentivar viagens. No caso do Viaja Mais Jovem, para avançar nesse sentido, temos toda a parte pedagógica tratada como de responsabilidade do estado, mas o governo federal produzirá um material do Ministério do Turismo sobre cultura de viagem, a importância de viajar para ter mais conhecimentos, experiências, e ainda para que se ganhe em conscientização sobre o turismo. O Ministério quer produzir esse material antes da primeira viagem no Acre, que acontecerá em outubro, para que as crianças possam viajar com esses subsídios, pensando sobre o que estão fazendo. Uma viagem para um público tão jovem, que nunca ficaria em um hotel, por ser uma parcela de baixa renda, impacta positivamente e muda a cabeça dele, abre vistas para questões que ele não imaginaria. Já para quem for receber esse turista (trade), há um ganho imediato porque a viagem será paga. É com preço subsidiado, mas, mesmo assim, ainda é instrumento de ocupação num período que o estabelecimento estaria vazio.
Vai haver apoio, por exemplo, na qualificação de estabelecimentos, para receber esse público de estudantes?
O Estado está providenciando capacitação para o recebimento dos estudantes e também a certificação. O que será feito, e isso já foi acordado com a Braztoa, é o auxílio para a validação desse programa para o mercado. Então, ainda em outubro, um técnico especialista em turismo receptivo da Braztoa fará a validação do produto, que é comum em escolas particulares de classe média, classe média-alta. As operadoras especializadas montam programas especiais para estudantes para promover as viagens como fator de aprendizado e meio de inclusão das classes. Onde houver itens a serem corrigidos, eles serão apontados para que haja correção.
Este é mais um importante passo para a ampliação do Viaja Mais?
Com certeza. Se observarmos o nascimento desse programa, veremos que se dá com recursos do Ministério em parceria com o Estado. Mas é um programa que pode ter adesão do Ministério da Educação, por meio da avaliação do resultado desse piloto e da ação das secretarias de Educação. Existem recursos na Educação que estimulam o aprendizado fora das salas de aula. E este é um projeto que, pelo caráter social, se mostra de fácil captação de patrocínio. Quando forem reunidos recursos do setor privado, do Estado e de outro Ministério, poderá ganhar volume muito significativo, ampliando em muito as nossas previsões e o Viaja Mais.
Tem algum espelho, ou experiência similar no mundo, ou o Viaja Mais Jovem é um modelo de ação nascida no Brasil?
Tem uma experiência que observamos no Chile. Quando soubemos da experiência chilena com estudantes, eles já estavam entrando no 8º ano de atuação junto ao segmento da melhor idade. Agora, vão entrar no segundo ano de atuação com jovens. No nosso caso, estamos começando viagens 100% subsidiadas. No caso do Chile, o piloto começou com um percentual pago pelo pai do aluno. Lá, não há envolvimento nem se objetiva estreitar ação com o Ministério da Educação. A ação se desenvolve com olhar mais recreativo. Indiretamente, claro, há o ganho em conhecimento: alunos visitam lugares históricos e culturais, mas o caráter que observamos é recreativo. O nosso modelo já tem sua estrutura vinculada a agir junto com a educação.
Cassiano Marques, secretário estadual de Turismo do Acre:
Como vai ser desenvolvido o Viaja Mais Jovem, no Acre?
Nosso trabalho começou a partir da possibilidade de um projeto conjunto com a Secretaria Estadual de Educação, para contemplar alunos e escolas que tenham tido mais crescimento nos índices de educação medidos anualmente. Fundamentalmente, vamos atuar em três rotas turísticas do vale do Acre: os caminhos do Pacífico, da Revolução e de Chico Mendes. No trabalho de consolidação dos destinos, percebemos um período de baixa ocupação, principalmente nos primeiros dias das semanas, que agora poderão ser ocupados pelo programa. De outro lado, fizemos uma reflexão sobre como incluir segmentos da sociedade que antes não estavam inseridas no turismo. A ação com a Educação foi um bom meio. É importante destacar que o Acre, há pouco tempo, ocupava a penúltima posição do IDEB (Indicador de Desenvolvimento da Educação Básica) e hoje ocupa a 11ª posição, superando todos os estados do Norte e Nordeste. Nossa ação casou bem com a ação do Ministério do Turismo (MTur), que estava desenvolvendo este programa Viaja Mais Jovem em parceria com o Ministério da Educação. Procuramos o MTur, e houve sinergia. O que o MTur buscava era desenvolver um programa focado no público jovem nos períodos de baixa ocupação hoteleira. A partir disso, as equipes do Ministério e das secretarias de Turismo e Educação do Acre formataram o projeto piloto, que será validado a partir das experiências ao longo desse ano. Poderemos divulgar resultados no inicio de 2009.
Quanto será investido e em quais ações?
O investimento do Ministério do Turismo e do Governo do Acre soma R$ 400 mil. Neste piloto, vamos atender 600 alunos da rede pública estadual e 45 professores. Serão alunos da 6ª série porque estes já têm um nível de aprendizado que possibilita um bom aproveitamento dos conhecimentos proporcionados pelo programa. Do total de investimento, um pouco mais de 50% será destinado diretamente aos meios de hospedagem e alimentação, durante as viagens. Haverá de início, também, uma parte do investimento focado na estruturação do programa com o desenvolvimento da metodologia, divulgação e ainda para a preparação do destino para receber esses clientes. Temos aqui uma ação de natureza diferenciada. Não se trata apenas de uma viagem de lazer, mas também de conhecimento, em que professores e alunos estarão, a partir do turismo, desenvolvendo atividades de formação dentro da grade curricular para aquela série.
Quem vai poder participar do Viaja Mais Jovem?
Na fase inicial estamos trabalhando com estudantes da rede pública de ensino (50% das vagas destinadas aos estudantes de escolas de menor IDEB da capital e 50% para escolas de menor IDEB nos municípios). Em outro momento, numa segunda fase a partir de 2009, o programa vai beneficiar outras séries do ensino médio e superior, trabalhando, também, a possibilidade do autofinanciamento das viagens nas escolas da rede privada. Isso não só no Acre, mas de outros estados brasileiros e também em outros países. Vamos trabalhar, também, a perspectiva de melhoria efetiva do indicador da educação básica de forma solidária. Ou seja, não queremos oferecer oportunidade apenas para o melhor estudante, mas também para a melhor evolução registrada por uma turma. Essa turma, com certeza, será selecionada para participar do programa.
Quando os alunos contemplados pelo Viaja Mais Jovem vão poder viajar?
A partir de outubro será feita uma seleção das escolas que estarão aderindo ao programa. As fases de 2008 se referem basicamente ao estado do Acre e alunos da rede pública. Em 2009, será trabalhada outra região, a do Juruá, e, também em 2009, será aberto, por meio da validação da metodologia e das agências de viagem credenciadas, o atendimento à rede privada, com auto-financiamento da viagem. Como são viagens em período de baixa ocupação, há negociação com o trade para redução significativa das tarifas, visando diminuir custos para que as escolas particulares possam participar. Em 2010, queremos promover um intercâmbio entre regiões.
O que os alunos vão poder conhecer no Acre?
O Acre é dividido em cinco vales, delimitados pelos rios do Estado. A região do baixo Acre, como a região do alto Acre, compõe a região mais populosa do Estado e faz divisa com Amazonas e Rondônia, e fronteira com a Bolívia e Peru. Ali estão os roteiros Caminhos da Revolução, que retratam a história da conquista do Acre a partir da revolução acreana, e que teve o herói Plácido de Castro liderando uma guerra contra a Bolívia, no inicio do século passado. Também temos os Caminhos de Chico Mendes, que retrata o desenvolvimento sócio-ambiental em sintonia com o ecoturismo, e os Caminhos do Pacífico, que é o roteiro que passa pela fronteira com a Bolívia e Peru e faz a conexão dessas três rotas com a rota internacional Amazônia, que está sendo implementada, a partir da construção da carretera InterOceânica – como chamam os peruanos. Essa estrada coloca o Estado muito próximo de Cuzco e da Costa do Pacífico.
O que será visto nesses caminhos em termos de patrimônio histórico, valor agregado de cultura?
Pelo fato de o Acre estar na Amazônia, todos os roteiros tem um forte conteúdo ambiental. Porém, os Caminhos da Revolução trabalham principalmente a questão cultural, história e patrimônio cultural, alguns tombados pelo IPHAN. Nos Caminhos de Chico Mendes estão todas as experiências de desenvolvimento sustentável, como manejos comunitários madeireiros e a preservação da floresta a partir da sua exploração econômica sustentável. Também o legado de Chico Mendes, que sempre defendeu que a natureza não deveria servir ao homem, mas o homem deveria servir à natureza, princípio de sustentabilidade. O terceiro roteiro, Caminhos do Pacífico, tem o foco voltado para a questão dos negócios, considerando a área de livre comércio que o Acre tem com a Bolívia e com o Peru, em função da estrada que está sendo construída.
Qual avaliação vocês fazem do impacto dessa ação para o trade local?
A contrapartida para o trade mais imediata é a adesão, também, ao programa de qualificação e certificação que temos, tanto com relação à infra-estrutura quanto ao serviço prestado. Haverá um processo intenso de capacitação para que o destino se fortaleça e atenda não só os turistas do Viaja Mais Jovem, mas os que estarão vindo de outros estados por conta própria. O trade terá, também, a partir do apoio de consultorias que serão implementadas para acompanhamento do projeto piloto, um fortalecimento pelo volume de recursos para pequenas empresas envolvidas. E haverá ganhos com o futuro intercâmbio com estudantes de outras regiões do Brasil e os de outros países, de acordo com o planejamento da ação. Não temos dúvidas ainda que o turismo, a partir da perspectiva local proposta por esse projeto piloto, poderá despertar o interesse de viagens de outros estados próximos, de outros estados mais ricos e até de outros países para conhecer o Acre. Além do Viaja Mais Jovem, o estado tem um programa de desenvolvimento sustentável muito consolidado, com experiências altamente bem-sucedidas, com base na conservação ambiental e no fortalecimento das comunidades. Isso é de grande interesse para um turismo vivencial com base ecológica.
Qual a importância do turismo na economia do Acre?
O turismo vem se desenvolvendo fortemente nos últimos 10 anos, a partir da estruturação do Estado e da melhoria da qualidade dos serviços na implantação de novos produtos. A atividade representa hoje cerca de 10% do total da economia do Estado, com possibilidade de crescer ainda mais por causa da prioridade que o governo dá ao setor. Uma potencialidade que se transforma em roteiro, por exemplo, é a rota internacional Amazônia – Andes – Pacífico. Há interesse de turistas tanto para conhecerem as regiões dos Andes quanto da Amazônia, e isso tem tido impacto muito grande. Só em números de desembarques nos últimos quatro anos, o Acre cresceu 130%, enquanto a média nacional é cinco vezes menor. O Estado tem um volume muito grande de novos investimentos no setor. Hoje, possui 70% de crescimento na capital em novas unidades habitacionais, meios de hospedagem, e isso tudo é uma resposta que a iniciativa privada está dando a esse número de turistas que está indo para o Acre.
O Viaja Mais Jovem congrega ações de Educação e Turismo. Quantos alunos o Acre possui na rede estadual, e como tem se devolvido o ensino no Estado?
O Acre tem cerca de 120 mil alunos matriculados na rede pública, representando o maior segmento de ensino do estado e com a melhor qualidade. O Acre é hoje exemplo para a rede privada e tem casos de sucessos reconhecidos nacionalmente por meio de olimpíadas de conhecimento e trabalhos validados por organismos internacionais. Fizemos um grande esforço para que o Estado saísse da penúltima posição do ranking de educação para o décimo primeiro lugar, hoje. A qualidade das escolas do ponto de vista de infra-estrutura é excepcional. Os professores são os mais bem pagos do país. O Acre é o primeiro estado do Brasil a cumprir integralmente o que estabelece a LDB (Lei de Diretrizes e Base da Educação). O Estado tem 100% dos professores das zonas urbanas com curso superior, e, até o final de 2009 e primeiro semestre de 2010, terá todos os professores da zona rural com curso superior, pois todos estão fazendo faculdade. Há um crescimento significativo em nível de 3º grau: em 1999, havia cerca de 2,4 mil alunos em apenas uma instituição, enquanto que hoje são 23 mil em 10 instituições. O estado tem 2º grau em todos os municípios, sendo que, em 1999, menos da metade dos municípios do Acre tinham o ensino médio. Além disso, os 22 municípios têm nível superior em diversas áreas de formação, o que fortalece a fixação das pessoas nos municípios de origem.
Como o Viaja Mais Jovem pode melhorar o índice de aprendizagem na educação básica?
A partir de um processo de estímulo que parte do Poder Público. O jovem se sentirá estimulado com novas perspectivas e desafios que lhe são colocados e, no momento em que o Viaja Mais Jovem for implantado e consolidado, professores e alunos estarão unidos para usufruir benefícios do programa. Vamos promover a inserção de jovens em experiências que o turismo oferece, e isso contribuirá para um melhor desempenho dos estudantes e conseqüentemente do índice de desenvolvimento educacional. O conhecimento propiciado pela viagem irradia também no contexto da escola: a informação e o aprendizado adquirido no período de viagem serão transmitidos aos demais colegas da escola.
Como a notícia do programa chegou aos estudantes do estado?
Com expectativa muito grande. Há uma grande mobilização hoje em torno disso, considerando especialmente que o Acre tem feito seu dever de casa. O Viaja Mais Jovem vem para fortalecer o processo de evolução do ensino no estado.
Contraste entre beneficiários e investidores dá o tom no turismo
Portal Hotelaria - Adit Nordeste – 08-05-08
"O Turismo já representa hoje o quarto produto do PIB nacional. Motivo de regozijo do Ministério do Turismo e de toda a cadeia produtiva integrante do setor, anunciada pela ministra Marta Suplicy, a informação chegou acompanhada por outra, igualmente interessante, a de que nada menos de 40 milhões de chineses, anualmente, cumprem roteiro de turismo internacional, embora não tenham sido revelados os destinos preferidos por eles.
O Brasil, porém, tem tudo para ser um dos países receptivos dessa pequena multidão, como igualmente poderia receber a visita de muitos dos que, a cada ano, saem em viagens turísticas em todo o mundo: segundo a Organização Mundial de Turismo, 842 milhões de pessoas em 2006. Há anos, entretanto, figuramos na posição de destino preferido de argentinos e de outros viajantes procedentes de países da América do Sul, em que pese o investimento oficial na promoção turística brasileira em outros continentes.
São, porém, recursos limitados ao orçamento da Pasta, que por sinal, cresce significativamente desde a criação do Ministério do Turismo em 2003. Para 2008 serão R$ 2,6 bilhões, contra R$ 1,8 bilhão no ano passado. Em contrapartida, por causa do câmbio desvalorizado, o movimento de turistas estrangeiros aqui anda desacelerado. Em 2007 foram 5,2 milhões de pessoas, ou seja, apenas mais oito mil do que no ano anterior, com a contrapartida do aumento do ingresso de divisas. Mas é um número que cresce muito pouco para a potencialidade do país.
Analisar os dados disponíveis sobre o movimento de turismo no País e no mundo acaba por suscitar uma série de reflexões. E uma das mais importantes diz respeito às fontes de financiamento para a promoção e divulgação do destino Brasil, tarefa que não pode ficar na exclusiva responsabilidade do Poder Público. Aliás, muito pelo contrário. Há tempos poderia ter despertado o interesse dos segmentos que mais se beneficiam dos bons resultados econômicos da atividade turística, entre os quais destaco o dos cartões de crédito, montadoras de automóveis, energia elétrica, telefonia e a Infraero, materializados em alguns bilhões de reais.
Enquanto as 92 maiores empresas do setor turístico (agências de viagens, companhias aéreas, hotéis e operadoras de turismo) faturaram R$ 34,1 bilhões no ano passado, as operadoras de cartões de crédito arrecadaram, só no primeiro mês de 2008, nada menos de R$ 16,3 bilhões (foram 214 milhões de transações, com valor médio de R$ 76,30). Evidentemente esse total refere-se a pagamentos de toda ordem. E o uso desse meio de pagamento é uma prática que só faz crescer em todo o mundo - como registra a pesquisa mensal dos Indicadores do Mercado de Meios Eletrônicos de Pagamento, sob a chancela do Itaucard, que, contudo, não separa o que o setor turismo representa nesse montante.
Entretanto, segundo a mesma fonte de pesquisa, e vale o registro, enquanto o PIB brasileiro teve nos últimos cinco anos um crescimento médio de 3,2%, a indústria de cartões cresceu à razão de 20,2% em média. Esses valores sofrem um incremento significativo na movimentação registrada em São Paulo, Rio, Minas, Bahia, Ceará, DF, Pernambuco, Paraná, Rio Grande do Sul e Pará, as maiores do setor no País. Nesse ranking constam alguns dos estados preferidos pelos turistas, brasileiros e estrangeiros, o que apenas ratifica a necessidade de se buscar novos investidores no segmento da promoção do turismo nacional.
Esse pensamento tem respaldo no fato inconteste de que o movimento do turismo beneficia diretamente as operadoras de cartões, na medida em que pagamento com dinheiro de plástico durante viagens é sinônimo de comodidade, praticidade e segurança. Oportuno registrar que o Brasil tem 92,9 milhões de cartões, ou seja, 1,6 cartão (de crédito ou débito) por brasileiro. Somados aos 142 milhões de unidades dos cartões de loja (movimento de R$ 40 bilhões em 2007), muitos deles no sistema "open private", que permite o uso em outros comércios, nas mesmas condições do crédito original aprovado. Portanto, são 294 milhões de plásticos em circulação, de três bandeiras principais: Visa, Mastercard e American Express. Justo, por conseguinte, que esse setor mostrasse sensibilidade para o reclame atual de participar do custeio do turismo, defesa que assumo, na certeza de tratar-se de um processo de conquista e conscientização. No meu entender, a resposta dependerá do plano de ação dos gestores oficiais do segmento turismo.
Outro setor, com igual importância ao dos cartões é o das locadoras, cuja frota, em 2006, era 250 mil 204 veículos, com faturamento de R$ 3,17 bilhões. Dado interessante, e apenas ele, corrobora o ponto de vista aqui externado, de entender as razões pelas quais setores tão beneficiados pelo turismo deixam de participar do marketing envolvendo o destino Brasil: o turismo de lazer responde por 29% do faturamento das locadoras; o turismo de negócios, por outros 17%; enquanto 54% ficam na conta da terceirização.
Pelo movimento/faturamento, outros segmentos da economia brasileira também poderiam participar dessa mobilização. É o caso das empresas de telefonia celular, hoje com nada menos de 124 milhões de aparelhos habilitados vendidos (dado de março/2008). E também o das montadoras de automóveis, que só no primeiro trimestre de 2008 produziram 783 mil carros, quer dizer, mais 19,3% do que no mesmo período no ano passado.
Claro que resultado tão significativo diz respeito ao proveito que o Brasil tira de políticas públicas, como a expansão do crédito, a manutenção das taxas de juros, a estabilidade econômica, o aumento da massa salarial e do emprego. Todavia, esse modelo de país, próspero e esbanjando riquezas naturais, de enorme diversidade gastronômica, múltiplos atrativos, produtos turísticos variados precisa desfrutar dessa condição de destino de excelência, algo que só acontecerá na medida em que conquistar parceiros de inequívoco desempenho econômico para investir e financiar o aumento da atividade turística brasileira. E eles, obviamente, se concentram na iniciativa privada".
João Luiz dos Santos Moreira, economista, presidente da Confederação Brasileira de Convention Visitors Bureaux.
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