domingo, 10 de junho de 2007

Preocupações da Igreja

Padre Brendan Coleman Mc Donald
Jornal "O Povo" - Fortaleza - CE

09/06/2007

Os bispos que participaram da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe que terminou no dia 31 de maio, próximo passado, em Aparecida, São Paulo, manifestaram algumas preocupações da Igreja Católica. Entre as quais podemos mencionar os seguintes:

a) Preocupação com a evangelização da cultura. Aqui no Brasil, como no resto da América Latina, estamos vivendo uma cultura predominantemente centrada no indivíduo. Os bispos reconheceram o valor da liberdade e seus anseios de justiça e de paz, cujas raízes cristãs não devem ser ignoradas. Porém, a Igreja reconhece também um humanismo atrofiado, não integral, que submete a pessoa humana aos imperativos da produtividade e do lucro, à busca de bens materiais e do prazer. Assim, o ser humano se fecha em si mesmo e não entra em comunhão com os outros e com Deus. Esse fato é um dos principais responsáveis pelos males que presenciamos nas nações da América Latina: fome, doenças, guerras, desigualdades sociais, corrupção, fragilidade das relações humanas e afetivas. Esta cultura apresenta luzes e sombras, valores e contravalores, fatores de vida e de morte, elementos de solidariedade e de egoísmo, e os bispos sentem que é necessário confrontá-la com a luz da razão e do Evangelho. A evangelização da cultura deve acontecer em todos os setores da vida social e cultural. Esse fato já demonstra a necessidade de que todos os membros da Igreja participem, embora de modos diversos. Cada um deve ser a luz de Cristo em sua família, em seu ambiente de trabalho, entre seus amigos, em sua carreira profissional, em sua participação no mundo da cultura, da política, da opinião pública. Tudo isso é um grande desafio para a Igreja Católica;

b) Os bispos sentiram a necessidade de evangelizar o mundo da comunicação social. A influência dos meios de comunicação social que formam fortemente a mentalidade dos nossos contemporâneos, muitas vezes em oposição aos valores evangélicos, exige uma atenção especial da Igreja neste setor, sobretudo por causa da impressionante globalização cultural vigente;

c) Um das maiores desafios da Igreja Católica é a pastoral das cidades, especialmente das grandes metrópoles. A maioria da população latino-americana vive nas cidades dentro de uma cultura urbana com características próprias e inéditas. A pastoral urbana deve, portanto, renovar-se em sua linguagem, em suas práticas e em suas estruturas. Não é uma pastoral especializada, mas um novo estilo de fazer pastoral;

d) Os bispos sentiram a necessidade de promover com mais esforço a dignidade humana. Os anseios da vida, paz, fraternidade e felicidade, que não encontram resposta em meio aos ídolos do lucro e da eficácia, a insensibilidade diante do sofrimento alheio, a corrupção das classes dirigentes, a falta de liberdade religiosa (em alguns países), os ataques à vida intra-uterina, e todas as modalidades de violência, indicam a importância da luta pela vida e pela dignidade e integridade da pessoa humana. Também se impõe o acesso de todos a uma educação de qualidade, à moradia, ao trabalho e à saúde. Na realidade contemporânea tudo isso não será fácil a fazer, mas urge maior difusão da doutrina social da Igreja;

e) os bispos resolveram renovar e consolidar a opção preferencial pelos pobres. Esta opção se apresenta hoje com novos desafios que exigem sua renovação, para que manifeste toda a sua raiz, sua urgência e sua riqueza evangélica;

f) Os prelados reunidos em Aparecida mostraram grande preocupação com a expansão das seitas na América Latina, sobretudo por serem, na sua maioria, católicos os que emigram para esses grupos religiosos. Carência de agentes pastorais, evangelização inadequada no passado, cuidado pastoral deficiente para com os pobres e os afastados e ausência de planos pastorais para os batizados que não participam mais em nossas comunidades são algumas causas desse fenômeno. Os bispos propõem uma séria reflexão por parte da Igreja sobre este êxodo e uma ação pastoral correspondente;

g) finalmente, os bispos mostraram preocupação em promover um laicato mais ativo na Igreja. Para que esta verdade se torne realidade, será necessário formar melhor os leigos, promover ativamente e sem temor o caráter cristão-secular de sua vocação, dar-lhes espaço na Igreja, respeitá-los em suas opiniões e iniciativas, abrir-lhes espaços para que participem nas decisões da comunidade, enfim, tratá-los como adultos numa linha de comunicação e participação como compete à sua vocação batismal.

Esta síntese das contribuições recebidas não está completa, mas brevemente haverá as conclusões da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe publicadas onde poderemos encontrar os demais desafios que a Igreja Católica tem que enfrentar com urgência.

Padre Brendan Coleman Mc Donald é redentorista, doutor em Educação, Psicologia e Teologia e professor-titular na UFC

Nenhum comentário: