Diário do Nordeste - Fortaleza (CE)
As empresas aproveitaram a presença de 1,2 milhão de fiéis no Campo de Marte para lucrar, com a venda de esfihas, sorvetes, água e artigos religiosos (Foto: Eduardo Queiroz)
Empresas de vários segmentos aproveitaram para lucrar com produtos e serviços ligados à visita do sumo pontífice
A vinda do papa Bento XVI ao Brasil, em maio último, foi mais que um momento de orações e reflexões por parte do rebanho de 124 milhões de católicos do País. Representou uma oportunidade de marketing e concretização de vendas para empresas de diversos segmentos. De operadoras de telefonia móvel, a fabricantes de banheiros ecológicos, passando por vinícolas e até empresas de fast food: cada uma aproveitou seu quinhão.
Nem mesmo a missa de canonização do primeiro santo brasileiro — Antônio de Sant´Anna Galvão, o Frei Galvão — escapou das estratégias montadas para atrair o público e ampliar os negócios. No meio do Campo de Marte, localizado na Zona Norte da Capital paulista, podiam ser vistos, por exemplo, os vendedores do Habib´s, alimentando os 1,2 milhões de fiéis presentes, com suas famosas esfihas, vendidas a centavos de real.
A multinacional Nestlé disponibilizou cerca de 80 vendedores ambulantes de água e sorvete no Campo de Marte. Para garantir o picolé vosso de cada dia, a empresa deixou três caminhões refrigerados a postos. O esquema na Nestlé não é novo. Conforme Jonny Way, diretor de novos negócios da empresa, a estrutura foi semelhante à utilizada em grandes eventos, como shows, jogos de futebol e corridas de Fórmula 1.
Telefonia e CD
Músicas, fotos do papa e de santos, mensagens de texto com palavras do pontífice e trechos da Bíblia foram alguns dos serviços que as operadoras TIM e Claro ofereceram aos fiéis, durante o período de visita papal em São Paulo. Filão explorado também entre os evangélicos (apenas mensagens com passagens bíblicas), este tipo de serviço engorda, a cada dia, o faturamento das companhias telefônicas.
Em homenagem ao momento único na história da Igreja do Brasil, a Paulinas-COMEP lançou, ainda em abril, o CD ´Frei Galvão - O Primeiro Santo Brasileiro´. Com tiragem de 15 mil exemplares, o produto traz a vida do frei e detalhes de alguns dos seus numerosos milagres, entrecortados por músicas.
O valor de venda é R$ 13,20, nas lojas Paulinas. Segundo a assessoria de imprensa da rede varejista de artigos religiosos, houve uma procura bem grande pelo CD, principalmente depois da canonização de Frei Galvão. ´Temos CDs vendidos lá no Mosteiro da Luz. Algumas lojas têm nos procurado para fazer encomendas´. (SC)
DE NORTE A SUL - Miolo manda vinhos, e cardeal quer lucrar R$ 1,8 mi com caderno
Não foram apenas as empresas instaladas em São Paulo que aproveitaram a presença do Sumo Pontífice. Daqui de perto do Nordeste, mais precisamente do Vale do São Francisco (divisa de PE com BA), seguiram garrafas de vinhos brancos para adoçar o paladar do Santo Padre. A Miolo Wine Group realizou uma seleção de vinhos e confeccionou um selo especial em homenagem à vinda de Bento XVI ao Brasil.
Entre as garrafas, que foram enviadas ao Mosteiro de São Bento, em SP, local onde o papa ficou hospedado, estavam as do espumante Terranova Moscatel, produzido na Fazenda Ouro Verde, no Vale do São Francisco. Os vinhos fizeram parte da carta que acompanhou o cardápio da chef mineira Mazzo França Pinto.
A empresa Cardeal, de Serafina Corrêa (RS), lançou os ´Cadernos da Fé´, linha especial com imagens de santos. As vendas devem alcançar 500 mil unidades, totalizando R$ 1,8 milhão até o fim do ano, o equivalente a 1% do faturamento previsto para 2007. (SC)
ANÁLISE - SAMIRA DE CASTRO: Um papa quase pop
Maior país católico do planeta, o Brasil recebeu de braços e coração aberto o papa Bento XVI. A cada dia de acolhida, tanto em São Paulo quanto em Aparecida e Guaratinguetá, o alemão carrancudo Joseph Ratzinger não resistia às demonstrações explícitas de afeto do povo brasileiro. E correspondia com sua saudação tradicional e um sorriso de canto de boca. ´O papa vos ama´, não parava de repetir em cada evento, ao passo em que a platéia vinha ao delírio, gritando: ´Beeetoo!´ e ´Papa eu também te amo´.
O momento mais visível do ´namoro´ com o público foi na Fazenda Esperança, em Guará, onde o sumo pontífice quebrou todos os protocolos e fez a exagerada segurança suar camisas e coletes de verdade. Sim, porque até então, os centenas de federais, civis e militares se limitavam a cumprir o roteiro, barrando qualquer um que não tivesse crachá, credencial e passe de acesso. Aliás, a imprensa foi a que mais sofreu para desempenhar seu trabalho, com listas e filas intermináveis para por a mão nos tão cobiçados passes que davam acesso limitado aos locais onde papa estaria.
Padres, freiras, bispos, arcebispos e cardeais viraram tietes. Num dos eventos mais marcantes para os religiosos, a oração do rosário na Basílica de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, eles pareciam paparazzi: subiam nos bancos da igreja com celulares e câmeras em punho para tentar fotografar seu pastor. E deliravam a cada Pai Nosso. Freirinhas se emocionaram e seminaristas foram às lágrimas.
Tudo no Brasil é comoção. Não podia ser diferente com um papa não tão pop, mas quase lá. Mesmo quem chegou comparando-o com o carismático e monumental João Paulo II, depois do primeiro aceno no papamóvel, logo estava íntimo do sucessor de Pedro. Coisa de brasileiro. Não! De argentinos, chilenos, paraguaios, latinos...
O futuro da Igreja Católica, a Celam, os discursos inflamados contra o aborto. Tudo ficou em segundo plano. Valia mais o sorriso, o thauzinho, a pose de ´vampirinho com braços abertos´ de Hatzinger. Se Bento XVI guardará alguma recordação? Talvez. Os brasileiros já o guardam na memória afetiva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário