domingo, 3 de junho de 2007

Aparecida - Um retrato dos negócios

O Jornal "Diário do Nordeste", de Fortaleza (CE), publicou no último domingo, dia 3 de Junho, uma extensa matéria sob o título: "Negócios de Pai para Filho - Aparecida / Comércio Informal Predomina". Reproduzimos a mesma aqui, no BLOG do SINHORES Aparecida e Vale Histórico, para que todos os interessados possam conhecer a visão externa que o mercado tem com relação ao modelo de negócios praticado em Aparecida.



(Na foto: Rosemíria Siqueira: a vinda do papa frustrou muita gente, porque a mídia atrapalhou)

Uma feira com 2,5 mil barracas de camelôs existe em Aparecida há 40 anos. Os pontos passam de pai para filho

O comércio popular ao redor da Basílica de Aparecida é um forte atrativo da região para os visitantes. Uma feira com cerca de 2.500 ambulantes, localizada na Avenida Monumental, chama a atenção pela imensa variedade de itens. Ali, o turista-devoto encontra lembranças religiosas, a preços de R$ 0,99 a R$ 1,00.

Segundo o assessor de imprensa da Prefeitura, Rogério Braga, a feira resume o momento de estagnação econômica do município. ´Ela começou há 40 anos e, de lá para cá, as banquinhas passam de pai para filho. O pessoal se acomodou a ganhar alguns trocados em épocas de grandes romarias e não procurou evoluir´, diz ele.

A feira, que iniciou com seis barraquinhas, só reúne trabalhadores informais. ´A Prefeitura não está mais concedendo novas licenças de funcionamento porque já esgotou a capacidade local´, comenta Braga. Para ele, a grande carência da cidade é a falta de uma escola superior. ´Não temos uma faculdade sequer para formar pessoas em outras atividades´. As faculdades mais próximas ficam nas vizinhas Guaratinguetá e Taubaté; ou um pouco mais longe, em Campos de Jordão.

Como o movimento esperado durante a visita de Bento XVI não se confirmou — os hotéis registraram entre 25% e 30% de ocupação porque as operadoras cancelaram reservas, temendo superlotação —, a entrada da cidade parecia uma praça de guerra. Dezenas de guardadores de carro disputavam clientes e ofereciam ´hotel baratinho, a R$ 100 a diária, para casal, com refeições´.

Quem lucrou

Alguns estabelecimentos conseguiram lucrar, como o Hotel do Papa, que alugou sua parte superior para a geradora de imagens argentina Network, por cerca de R$ 15 mil. O ´quartel general´ da rede internacional dava uma visão privilegiada do altar montado fora basílica, onde Bento XVI abriu a V Conferência Episcopal da América Latina e Caribe.

Durante a estada do papa, toda a cidade parecia um grande mercado a céu aberto: banheiros químicos custavam R$ 1,00. Estacionamentos, também (preço por hora, com direito a chuveiro para banho). Quem quisesse deixar o carro fora, nas ruas próximas à basílica, tinha de pagar aos flanelinhas a bagatela de R$ 20,00.

Para Rosemíria Siqueira, a vinda de Bento XVI e a canonização do Frei Galvão deram o empurrão que faltava para Aparecida deslanchar no turismo religioso. ´O problema foi que a mídia atrapalhou. Estávamos esperando mais de 500 mil pessoas na semana da visita do papa e os jornais começaram a alardear superlotação, epidemia de dengue´, comenta. Resultado: vieram só 150 mil turistas-devotos. (SC)

ELEVAÇÃO DA RENDA - Trade está de olho nos turistas estrangeiros Aparecida possui mais de 200 restaurantes, incluindo os dos hotéis

Depois que os olhos dos católicos do mundo inteiro se voltaram para a terra da padroeira do Brasil — com a visita do papa Bento XVI em maio último —, o trade turístico de Aparecida do Norte está de olho nos visitantes internacionais. ´Quatro cardeais que estão participando do Celam confirmaram que, em julho, trarão grupos de religiosos, em vôos charters, para conhecer nosso santuário´, informa Ernesto José Elache, presidente do Sindicato de Hotéis e Restaurantes de Aparecida e Vale Histórico.

´Falta qualificação e aperfeiçoamento da mão-de-obra, para citar apenas o aspecto que cabe ao trade investir´, afirma Rosemíria Siqueira, ex-secretária de Turismo local. Segundo ela, embora a presença de estrangeiros venha crescendo, não há pessoal no Santuário, nos hotéis ou restaurantes com capacidade para atendê-los. ´Vem muito espanhol, argentino, alemão e americano. Eles gostam de levar a imagem de Nossa Senhora e algo que remeta ao Brasil. Mas é um sufoco para nos comunicarmos´.

Elache reconhece as deficiências de pessoal, mas defende que o poder público tem de entrar como parceiro, para capacitar a mão-de-obra em vários segmentos. Destaca o trabalho que o sindicato está fazendo com os restaurantes, para qualificação no preparo de alimentos, segundo regras da Anvisa. ´Este é um segmento que precisa melhorar´. Aparecida possui mais de 200 restaurantes, contando os dos hotéis, que empregam diretamente mais de 500 pessoas. ´Sem falar nas lanchonetes´. (SC)


´CABIDEIRAS´ NO SANTUÁRIO - Total de ambulantes no local é limitado

Dentro do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, o número de ambulantes é limitado. Apenas 120 profissionais, denominadas ´cabideiras´, circulam nas alas da basílica. ´Só pode vender que tem esse colete. Mesmo assim, não podemos entrar na igreja´, explica apressada Erlinda Araújo Guimarães.

Como sustenta a família com a venda de artigos religiosos, ela diz que não pode dar entrevistas, para não perder as vendas. ´O tempo que eu passar conversando com você, poderia estar circulando, em busca de novos fregueses´, completa. Sem mais delongas, avisa que trabalha ali há 20 anos e que o aluguel do colete custa R$ 15,00. ´É nossa responsabilidade mantê-lo limpo´.

Depois de comprarmos algumas medalhinhas de Nossa Senhora Aparecida, ela aceita falar mais um pouco. ´A gente só pode vender terço. Até os modelos de medalhas que temos vem com tercinho junto´. Os produtos custam entre R$ 1,00 e R$ 20,00. Em época de forte movimento, dá para apurara mais de R$ 100 ao dia. (SC)



TURISMO AVANÇA
Infra-estrutura ainda é precária


O fluxo de visitantes cresce, mas a infra-estrutura da cidade deixa a desejar, para o turista de maior poder aquisitivo

Com nada menos do que 156 hotéis, com capacidade para abrigar 30 mil pessoas, Aparecida começa a colher as graças do crescimento da devoção a Maria. O fluxo de visitantes cresce vertiginosamente — foram 8,2 milhões em 2006 —, ao passo em que a infra-estrutura da cidade deixa a desejar, principalmente para o turista de maior renda. Boa parte da rede hoteleira é voltada para romeiros de baixo poder aquisitivo, similar às hospedarias populares de Juazeiro do Norte (CE), só que, numa versão melhorada.

Segundo Ernesto José Elache, presidente do Sindicato de Hotéis e Restaurantes de Aparecida e Vale Histórico, em 2006, a rede hoteleira local ganhou seis novos empreendimentos. Todos de médio porte. Sem revelar o montante de investimentos, conta que em apenas um estabelecimento, com 42 apartamentos, foram alocados R$ 3,6 milhões, sem contar mobiliário, roupas de cama e mesa, talheres, eletrodomésticos e eletroeletrônicos.

´No ano passado, 80% da rede hoteleira local foi reformada ou ampliada, após a confirmação da vinda do papa para cá´. Ele explica que, ´como a demanda de visitantes é maior que a oferta hoteleira, ainda tem muito hotel ruim ganhando dinheiro´. Mas isso vai mudar, porque a cidade começa a atrair empreendimentos de bandeira. ´Com a concorrência dos grupos de fora, que não se adequar, fecha´, diz.

Qualificação

O setor ainda peca, segundo Elache, na questão dos recursos humanos. Os hotéis empregam cerca de duas mil pessoas, com carteira assinada, mas a qualificação é muito baixa. ´Começamos em 2006 um trabalho de capacitação profissional, sem parceiros. Bancamos uma cozinha-escola, um apartamento-escola e uma recepção, para treinar pessoal´.

Com todas as dificuldades, o sindicato conseguiu formar 387 pessoas, em cursos teóricos e práticos de 100 horas-aula. Destas, 12 estavam nas ruas, sem qualquer perspectiva profissional. ´Hoje, oito estão empregadas´. A entidade cobra R$ 300,00 dos participantes, para custear a estrutura das aulas, o corpo didático e materiais, como uniformes. ´Na cozinha-escola, por exemplo, o aluno aprende a fazer pratos com peixes, aves e carne bovina´.

Em Campos de Jordão, onde funciona o curso de nível superior em hotelaria mais próximo, a mensalidade é de R$ 1.500. ´Impraticável para um funcionário nosso ou mesmo um empresário freqüentar´. Para Elache, o Sistema S deveria fazer parcerias com o setor privado para oferecer cursos de capacitação. (SC)

Capital da fé atrai romeiros desde o século XVII

O município de Aparecida do Norte tem 112 quilômetros quadrados e 36,2 mil habitantes. Mas, desde o século XVII, atrai milhares de romeiros. Foi nas águas do Rio Paraíba, que entrecorta a cidade, que pescadores encontraram a imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, em 1717.

Quando passava pela Vila de Guaratinguetá Dom Pedro Miguel de Almeida, o Conde de Assumar, governador de Minas Gerais e São Paulo, foi pedido a vários pescadores que abastecessem a comitiva. Entre eles, estavam João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Garcia, que navegaram pelo Paraíba por cerca de seis quilômetros sem nada pescar.

Ao chegarem ao porto de Itaguaçu, pescaram somente o corpo de Nossa Senhora da Conceição. João Alves guardou a imagem e, pouco abaixo, pescou a cabeça da santa. Todos ficaram impressionados porque, junto com ela, veio uma enorme quantidade de peixes. A partir daí, Aparecida se tornou o destino maior do turismo religioso no País. (SC)

ÉPOCA DE ROMARIA - Lojas chegam a funcionar 24 horas

Trabalho no Shopping da Fé é o que não falta: ´Em época de romaria grande, como agosto, o shopping funciona 24 horas´, diz Rosemíria Siqueira, proprietária da loja Nossa Vitória. Tempo parado mesmo só em fevereiro. ´Ou perto da quaresma, porque o pessoal fica sem dinheiro para fazer viagens longas´, argumenta.

Quando o período é de vagas gordas, a lojinha recebe cerca de 300 pessoas por dia, registrando ticket médio de R$ 20 por visitante. ´Alguns santuários são mais elitistas. Aqui, vem gente de todas as classes sociais´, comenta. Além dela e do esposo, trabalham no ponto mais duas funcionárias.

Dona Maísa, proprietária de dois quiosques de venda de lanches no Shopping da Fé, conta que somente um de seus pontos vale hoje R$ 120 mil. ´Comprei o local por R$ 60 mil e investi mais R$ 10 mil para construi-lo e equipá-lo. O aluguel de cada um sai por R$ 2 mil mensais e dá para viver bem com o que ganho aqui´, diz. Ela emprega cinco pessoas, a maioria da família, em cada ponto. ´Há 15 anos, quando João Paulo II visitou Aparecida, isso aqui não era nada. Hoje, é isso o que você está vendo: um mar de gente, muito trabalho, fé e empregos´, resume. (SC)

------------------- outras matérias sobre o assunto serão colocadas nesse BLOG -------------

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